"Não te vas a reclamar do frio e não peças nada aos que se vão ao poder..."
(Uma portuguesa da nossa Era.)
"É. Eles vão te dar um veneno queimado..."
(Um carioca expulso, no mesmo hospital)
"Fora da Igreja não há salvação."
(Epístola 4, 4 e 73,21,São Cipriano de Cartago, foi se esconder!).
"Ei de decifrar-lhe as vestes e olhar-lhe as entranhas.
Se notar-me, reconheço o caminho:
sairei correndo..."
(Anônimo do século XIII)
Na Má
Levantei-me acerca de duas horas e julgo que ainda não me recuperei do fato. As horas transcorriam vazias, em silêncio, não conseguia saber que dia... o que se tinha passado, em que momento se encontrava, o que devia fazer...mas estava em choque...as mãos estavam trêmulas, inchadas, e parecia ter segurado algo, talvez uma parede, no alto, por um longo tempo. Foi só impressão - me disseram. O vento gelado soprava. Esteve em perigo - não havia dúvida - mas não sabia do ocorrido...no braço esquerdo, havia ainda rastros de sangue, de ferimento. No direito, um roxo. Em tensão, não conseguia dormir, mal respirava. Mas iria se acalmar. Sim, já estava no seu quarto, o tal do sopro não havia passado, mas o calafrio diziam que era por causa do chamado.
Eram convites - mas não eram eles que me sequestravam - quando se achava em casa, só conseguia perceber os pés - já estavam sujos.
Era realmente o trecho de um texto. Um recorte. Era muito valorizado. Era usado em cursos de bruxaria. As vestimentas deles eram medievais. Eram eles que faziam os tais de "chamados"...Fui ver. Mas não me viram em nada. Fui indiferente. Não conseguia me mexer.
"Ce n'est pas une chienne...
Ce n'est pas une poule...
Ce n'est pas une veuve...
Ce n'est pas une vamp..."
Olhavam-me o corpo. "Não se vê as marcas!" - exclamava-se um velho.
"C'est quoi?! Personne l'a connais..." - respondia um outro, em cólera.
Então entenderam que eu não pertencia. Nunca desci. Mas me esperavam fazia tempos. Nem eles sabiam o porquê. Tinham porém a certeza de que eu sucumbiria por algum cargo, acharia um. Estava entre os que deviam chegar...
Frades caminhavam. Não me viam ou fingiam não me ver. Eis-me aqui. Eis-me lá. A construção era de madeira, parecia tudo feito de cedro. Alguns acreditavam chegarem lá de helicóptero, entrava-se por uma nuvem e de repente, descia-se lá, perto de uma praia. Na frente, havia um cercado que continha cachorros tidos por mal-amados, com olhos estranhos. Dentro do imóvel, havia um refeitório enorme, também uma escada, ia-se ao alto, somente para se fazerem pedidos, era lá mesmo, numa espécie de laboratório subterrâneo, que se fabricava o veneno queimado, e uma indumentária religiosa, em outra sala, que disfarçava outras práticas. Havia muitos quartos, todos os hóspedes eram considerados já sem casa, sem lar, já sem nada, e lá seria o último lugar. Queriam viajar. Eram pálidos demais, talvez tivessem escolhido, renunciado; não sei se quando picados, se ainda haveria algum sangue...
Não fazia frio, nem calor. Nada de brisa. Os cães ladravam lá fora, eu gostaria de tê-los salvado. Contaram-me - em surdina - que eles já haviam sido extintos. Eles e os cães. Eles mesmos não sabiam como. Só sabiam aonde haviam desaparecido. Todos tinham seus caixões. Chegavam mesmo a trabalhar. Depois:
"Eu cheguei. Agora me feche."
Tomavam medicamentos. A carne não vencia. Conservavam-se. Sussurraram entre eles algo sobre "liberação"... seria para mim? Seria para nós? O documento antigo falava ainda de veneno, muito veneno. Para ascender...a data era antiga...como escaparia? Tinha-se a mesma visão... o décor em madeira...o confessionário...descida para alguns...um comunicado...uma pessoa em pé ao lado de um caixão...um velório... parecia que era a hora da Verdade...
Mas dessa vez eles haviam se enganado.
"Ce n'est pas Elle! Ce n'est pas Elle! Ce qui cette fille?! Elle nous refuse!!!"
Não esmorecíamos. Recusávamos tudo. Éramos firmes. Mas éramos questionados:
- Não, eu não renuncio.
Éramos colocados em confissão:
- Não, eu não me sinto culpada.
Éramos cobrados:
- Não, eu não me visto...
Éramos julgados:
- Não, eu não sou santa...
Decidiram com isso que eu entraria em "sauvé", isto é, todos nós, seríamos colocados para fazer...mas não haveria escolha...a escolha seria feita por eles mesmos...todos pertenciam a mesma sociedade...espécie de prostituição. Mas era uma extrema ironia. Eles gracejavam. Já sabiam que não... não conseguiríamos nem fazer e sofreríamos... o ânus seria inteiramente "coberto"... nessa sociedade ninguém faz...é isso... era tudo tortura e fora desse círculo... só haveria perdição... o mundo...eles não conseguiam sequer imaginar que simplesmente não havíamos aceitado...
Eu disse apenas: "não aceitei"
Urros eram ouvidos. Surtavam.
"What?!"
Andávamos todos nus, com as vergonhas de fora e com as pernas também...quem sabe fosse por isso...apelidavam-nos...nunca sabiam nossos nomes... e tudo era estranho para nós...não entendíamos nada...nunca fui santa, nem prostituta...
- Será findada como? - entendia longe...
- Queimada - alguma má influência parece ter respondido.
Assim foram detidos. Pararam de aplicar-lhe o bálsamo nas mãos. O caixão já estava pronto. Mas havia um problema: não era um morto. Não era uma defaillante.
Decerto havia se mexido, não sei.
Decerto havia se mexido, não sei.
Acordara com o canutilho entranhado na vulva, pois - confidenciaram-lhe - para queimar o processo seria iniciado pelas partes íntimas.
Foi assim: conseguira reagir. Queimara o caixão. Saíra machucada de um embate, daí alguns rastros dessa história...Ao menos não houvera o sacrifício.
As árvores não gostaram. Se contorceram e foram vistas.
As árvores não gostaram. Se contorceram e foram vistas.
Ainda ouvira a sirene. Bombeiros chegaram e apagaram o fogaréu.
Elas não foram muito queimadas.
On échappe toujours...des morts...
On échappe toujours...des morts...
(Escapa-se sempre)
- Dieu Merci.
*Existe a Má (bálsamo), a Má (mafink*) que parece cuidar de festas (perrimes), que parece entrar também em outros setores...há ainda os da antiga Igreja Anglic*, protestantes...parece cuidarem dos infernos. No Bré...foram transtornados para a Quadrangu*...isso tudo ainda é investigação...sofremos muitos abalos e ainda não compreendemos de tudo e nem pretendemos...com isso fui obrigada a falar de privacidades e de me declarar católica apostólica romain*, porém não-praticante...tento com isso afastar assédios belicosos...(em 24/01/2014)
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