terça-feira, 23 de abril de 2013

EL CAMIÑO


EL CAMIÑO







“Camiñante, no hay camiño. El camiño se hace al camiñar”

(Neruda)









Máscaras caem uma a uma à medida em que se caminha. El camiñante não aceita mediocridade. Quer apenas o que é seu de direito. A sua vida de volta. Seu rumo. Sem mentiras, nem confabulações, nem intrigas, nem histórias contadas de orelha a ouvido em voz baixa, como se fossem verdadeiras, mas são apenas jogos e dissimulações e intrigas de rostos incapazes de enxergarem a luz ou de promoverem a paz.


Sem sentido, já não conseguem ler nas entrelinhas.


O caminhante é lúcido. Conhece todos os jogos. Sabe como os senhores agem e como pensam e como manipulam os destinos. E nem é preciso muito. Apenas costumam mover uma peça de lugar. E apenas isso já os satisfaz. Alegram-se com suas armadilhas.


Contudo, como contrapartida desse jogo – pois que a energia vai e volta – sentem suas buscas como infrutíferas; seus movimentos, nulos. Seus sentimentos, vazios. A bagagem pesa. A falta de sentido angustia. E como não há luz nessa casa, não há vôo.


Precisam relembrar: ninguém entra no portal sem autorização. Ele apenas tentou lhes revelar isso: que há segredos perdidos à espera do retorno dos mestres. A Arca continua bem guardada, no entanto. A salvo das ambições individuais. Mas foi tido por orgulhoso e arrogante.


Então El camiñante caiu, juntou e recuperou seu rosto naquele dia. Compreendeu algo. Evitou uma demolição.


Segura agora as rédeas de seu destino, porque tem sua própria história para contar. A memória cujo raio havia sido atingido retorna. Ele retomou a Busca. Não havia ninguém a poder fazê-la por ele. Ele era único nessa estrada. Mas um raio despedaçou todas suas certezas. Toda sua cultura fora demolida. Ele começou então sua própria reconstrução. Outros que por lá passeavam, insensatos, riam-se dele: estava fora do jogo: era um pedreiro. Esses eram apenas reflexos, encenações. Criam ganhar sendo outros de outros. Infelizes: não o seriam se abraçassem suas próprias histórias. Mas é perigoso ser o que se é.


(Eu acredito)


Então ele vislumbrou a longa estrada naquela manhã. Estava ainda sujo da construção. Teve como companheira a própria mente e o vazio. Era chegado o momento do movimento. Ele queria o movimento depois do nada que lhe fora concedido.


E viu a estrada sem nenhuma bifurcação. Sentia-se feliz pois,


Em outro lugar por último é sempre melhor – ouvira de um bêbado poeta.









foto: National Geographic.