|
Imagem esotérica surgida misteriosamente no meu PC. |
"Porque tudo o que vive é sagrado" (William Blake)
A descoberta da fonte da vida e da fonte do mal não foi talvez o limite do terror...e sim um acidente em que não se há memória.
Corações ambiciosos ainda desejaram compreender o ocorrido adentrando o sagrado com mãos impuras - desatinaram - já que não tinham o direito divino de conhecer. Tudo aconteceu num átimo de segundo...e em outro plano, não neste, reconhecido por eles como único, quando então se encontravam acordados.... Entre os mortais conscientes ficara a nítida sensação de que agora o tão esperado momento chegara. Vigiavam de dia, de noite, acordados ou aparentemente adormecidos. Olhavam pelos olhos, pelas costas e pelos pés...Estavam atentos a qualquer ruído e até à própria respiração...Outros, erguiam suas espadas mesmo quando achavam que apenas descansavam das lidas diárias...”não, não é sonho, isso é real...venha conosco, venha assumir sua antiga posição...”–dizíamos a eles e muitas vezes, já esquecidos, nos ignoravam... tudo não passava de um sonho, ou de um pesadelo...refletiam, durante o dia. Enquanto nós os guardávamos e ainda insistíamos em inspirá-los.... mesmo surdos e cegos ao que lhes dizíamos, no fundo, já sabiam que isso ocorreria e que algo havia mudado: o jogo recomeçara. O dragão fora despertado, os mortos voltavam “com vinte golpes fatais na cabeça”, conforme já havia lhes deixado escrito Blake, aquele que era também um dos nossos... os ventos dos primórdios sussurravam nos ouvidos... a roda da Fortuna dera suas voltas e o tempo havia chegado, o tempo do retorno havia chegado, já que uma aliança fora feita. Isto estava escrito e assim que tocado o pergaminho por mãos inábeis, tudo principiara a acontecer. Foram eles mesmos que se conduziram a esse ponto... a ambição humana, sem limites, a ciência... quis conhecer a Deus...
Entre nós, conta-se que na primeira batalha o bem teria vencido (ou teria sido o mal?) Desde então o sofrimento alastrara-se pelo planeta como um valor, a garantia de que – chorando, sofrendo – o homem alcançaria o reino dos céus, e reconquistaria o Éden de onde havia sido expulso. Tudo em vão, até mesmo essa idéia se desvanecera e o homem se lamentara, se desesperara até que não houvesse nem mesmo mais lágrimas para se prantear....nenhuma promessa mais lhe consolava...O raio por isso fora ordenado... o Senhor Supremo de Tudo que ainda É emanara. E tudo recomeçara. O acidente do qual todos já se esqueceram e no qual as lembranças já estavam todas mortas fora longinquamente recordado, porque o sopramos nos ouvidos e quisemos que eles o recordassem para que ele não mais tornasse a acontecer. E então alguns pintaram, outros desenharam, outros escreveram, outros fundaram mais uma religião e outros ainda consagraram templos à busca. Sim, conseguimos despertar alguns para nossa causa... mas a sangrenta batalha estava em curso e, por enquanto, não sabíamos quantos de nós já haviam desertado, enlouquecido, ou falhado...
Recebi Otávia, a Rainha. Havia em seu semblante um certo pavor pelo que havia experienciado... contou-me, sem falar, através de seu olhar sereno, num relance, que muitos dos enviados foram levados à loucura. Já não sabiam mais de que lado ficava a Morada... “a Luz vinha de onde? Por quem deveriam lutar?” Parecia que, engolfados pelos hábitos do planeta, eles não sabiam mais de que lado ficava o lado correto...e até agrediam-se...ou tentavam exterminar o seu semelhante. Foi por isso que ela voltara mais cedo para nós. Fora acusada, acanhada, violentada em seus brios. A multidão queria seu sacrifício e seu algoz acabou revelando-lhe a face: tirou o capuz e viu alguém que sempre fora seu amigo na Terra: “não me reconheces mais? Sou tua irmã!!”– gritara. O desnorteado nada mais entendia...havia sido tragado e sem forças, sem rumo, fora manipulado pelos seres infernais...achava que ela é que era a inimiga, e não lhe faltou muito para que ele achasse justo exterminá-la e ela atônita com a loucura de seu amado irmão, não teve tempo de reagir e... bom, fui busca-la, mais cedo e antes da hora prevista.... O sacrifício diante dos olhos vagos de seu amigo-irmão era algo muito justo e ela já sabia – porque da hora da partida sempre sabemos – que isso um dia ocorreria... e então, louco, vagante, encontrara outro e mais outros, e nada mais sentia...nada mais via ou ouvia...e como um autômata, o algoz se achava correto... ele foi um dos que tentaram invadir o templo sem permissão e teve como presente a loucura... os seres já sem luz encontravam-se pelos caminhos e cumprimentavam-se friamente e cada um apenas seguia... era algo verdadeiramente atroz. E pensar que, no passado, seu irmão era completamente equilibrado...
Eles eram assim: originalmente mutantes, pertenciam à nova raça que deveria habitar o planeta em seu momento de transição de uma dimensão para outra...seriam como que o embrião da nova Era, da Era de Paz, de Ouro, quando Saturno voltaria ao trono e abriria a Arca da Aliança trazendo uma era de paz e de felicidade para todos....ele fora um dos muitos que perdera a centelha divina nas rotas, nos caminhos que buscara e achara para ele...
Muitos haviam lutado até o fim de suas forças e chegavam agora completamente extenuados. Em baixo, perderam-se os sinais, os símbolos, já nem mais se reconheciam entre si. E poucos, bem poucos esgotavam-se tentando recuperá-los, reavivando lembranças, sentimentos e origens...
Outros ainda buscavam a Arca, na certeza de encontrá-la, continuavam positivamente com a espada em punho, e nós aqui, observávamos tudo isso, a batalha não parecendo às vezes muito nítida..nem mesmo para nós... e outras vezes parecendo muito difícil para os Filhos da Luz...O que nos acalmava um pouco mais os semblantes preocupados era que alguém ainda permanecia em Terra, a guerreira que nunca desiste: a Esperança. A batalha apenas começou. Mas quais seriam os planos do Supremo Magister?
(Nota: trata-se de uma adaptação de um texto que era peça de teatro, para uma performance, com colaboração de Elvira do Valle. A imagem utilizada surgiu misteriosamente em minha casa como proteção de tela de meu computador.)