sábado, 26 de janeiro de 2008

Mulher obscura

Foto 6 : P.I.G.S. "Visita ao Jardim". Rio de Janeiro, 2008.
“Fôssemos oniscientes e tudo seria perfeitamente claro”
William Blake.


Os cabelos são negros, macios e longos. Cacheados. Seus olhos são tristes, apagados. Guarda uma mágoa profunda. Ou não. Nenhum sentimento para decifrá-la. Talvez tenha tido a vida interrompida fora de hora, de forma injusta. Lembra bastante aquelas pessoas que, quando vítimas de forças das trevas, apagam a luz da divindade e da vida nelas próprias. Ficou triste. Atravessou a fronteira entre os mundos, mas diante do portal recuou e voltou. Achava que não estava certo tudo aquilo. Permaneceu como fantasma junto a milhares de outros vagantes por muitos anos até que uma providência fosse tomada. Então soldados a levaram e ela passou por um certo aprendizado entre os mundos. Mas continuava sem se conformar com a interrupção criminosa de sua última vida. Argumentou. Os deuses então permitiram que voltasse e concluísse a missão. Dessa vez seria diferente e ela não causaria dano a ninguém movida que era pelo profundo desejo de justiça. Voltou e olhou e várias vezes pediu perdão à sua filha e esta logo lhe perdoou e elas se abraçaram. Nos encontros nada era dito, tudo era apenas transmitido como que telepaticamente. Era o bastante. Fazia muito tempo que tinha partido agora. E como os fatos precisassem de um apoio seu, ela voltara e agora permaneceria em terra até que tudo se resolvesse. Seus olhos continuavam com aquela profundidade triste. Negros. Fitava o nada. Era uma morta e estava sem vida, mas ainda se apresentava como uma muçulmana, embora se vestisse de branco, agora. Que presença seria aquela?
Apenas uma revelação. Uma presença obscura. Uma imagem.
Que aguardava. Aguardava. Aguardava. O quê?

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