Foto 14: "Leão em fuga", exposição RJ, P.I.G.S., Rio de Janeiro, 2008. |
(Shakespeare in Macbeth)
Tudo se fragmenta. A realidade nauseia e descalço, anda pelas ruas inebriado de fatal realidade. O chão é negro, maciço e frio e do frio se tem muitas histórias para contar. Mas isso não importa. Elas perderam todo o peso e de tanto que foram ouvidas deixaram de existir e passaram à zona de sombras, local em que os gestos mais nada significam.
Ei-los agora. Nada olham, nada fazem, apenas esperam e a espera é o pior de tudo. A espera apenas, e do momento final. “Cultuam o vazio” – ele disse. E soprou-me no ouvido o ar de uma incrível melancolia. Era preciso que o ar fosse novamente sentido e que penetrasse nos corações, acalentando com muita luz essas vidas. Isso tudo foi transmitido apenas por um olhar, mas nele a certeza era a única mensagem.
É com serena postura que ele vem e constata a ausência de sede. Seres sem vontade, andrajosos, caminham em fileiras lentamente e num corredor escuro só devem esvaziar-se da subjetividade e fugir ao Grande Desconhecido. O ser pálido conduz a cerimônia e não há nada, apenas o vazio. Nem ordem, nem senso. Mas daí nasce a dor. Essa, do não-existir. Como não perceber? A falta de sentido de qualquer movimento – pois o trono é de areia e ela se faz pó - pois já não têm esperança, desejos, sonhos. Toda taça era trazida vazia e ele, o vácuo, era o único cultuado.
Ele que viu e adentrou em tudo constatou que era preciso que a taça se enchesse. Que o líquido precioso não se perdesse e que o brilho dos olhos novamente resplandecesse.
Mas era preciso lutar. Pois a guerra não estava perdida nem ganha.
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