quinta-feira, 30 de abril de 2009

PROMETEU, O ATORMENTADO



“E per si se muove, a terra”
(Galileu, Galilei)


Prometeu ainda está lá na rocha sendo açoitado pelos abutres. Eles lhe comem o fígado todos os dias. E seu sacrifício lhe soa inútil há séculos. Em seus ouvidos, sopram ventos de incerteza, de melancolia e até de tédio. Quem diria. Tanto sacrifício para que a raça humana se tornasse humana e agora seu ritual lhe parece vazio. Prometeu já não ousa. Envelheceu. O mito apenas se conforma à ausência de Destino. Porque até os deuses parecem ter se retirado do Olimpo. O silêncio lhe penetra as entranhas e não vê a natureza se transformando como d’antes. Como se nem ventasse. E nem fizesse frio. Antes tinha um segredo ansiado pelo próprio Zeus, mas onde ele está? Por isso, de rosto erguido, continua sua batalha sem palavras. Ainda que ela tenha perdido seu sentido no tempo. Sacrifício já até apagado e fora da história dos homens mortais e esquecidos. Agora chove. E tal lhe parece um signo de vida, um murmúrio, um dos últimos, da sombra, da lembrança que era a terra. Trovoadas e gritos se misturam e eles vêm daquela triste sombra. Naquele lugar, fora de qualquer vista conhecida, a Grande-Mãe oferece-lhe seus seios e deles caem gotas que alimentam a eterna testemunha do holocausto. E não tão longe assim do deus, entre o fogo roubado aos homens, só há manchas de sangue.


Mas tudo passa sobre a terra.

domingo, 19 de abril de 2009

De volta.

Fio de lua. Imagem Google.
"Por isso cuidado, meu bem, há perigo na esquina..." Elis Regina.

Viajamos. Olhamos vários rostos. Passamos por desatinos. Recebemos avisos de rostos amigos. De mendigos, de prostitutas, de bêbados...já não importava mais nenhuma identidade. Não havia preconceitos. Importava somente a viagem. E, nela, havia sempre um abrigo e um abraço. Desprezamos os vaticínios. Driblamos os perigos. E chegamos... inteiros. Leves. Felizes. E cada um reencontrou o Lar.
De modo que chegamos ao Destino. Ao ponto de origem e de retorno. Priscas eras. Depois foram inevitáveis os consertos do tempo, com as vozes da memória. Reconstruímos as paisagens. Reordenamos o tempo. Perambulamos entre portais e não havia mais limites. A criatividade reordenou as histórias e nomeou a cada um novamente, lembrando-lhes a cada um a sua espada, o seu lugar, o seu tempo. Porque se haviam esquecido. Porque se estavam perdendo. Estava tudo confuso e isso era preciso.
Então por isso Ela retornou, tudo para poder voltar a voar novamente. Com o seu ponto de partida reafirmado, porque sempre fora sua essa espada. E quem impôs o limite foi o Criador.