quinta-feira, 13 de agosto de 2009

ENTRADAS E BANDEIRAS

Vencedora de um Oscar para melhor cantora: Preta! (Noir)...Ela canta mesmo! Mas já queriam usurpar...


Bloquearam-lhe todas as entradas para que baixasse suas bandeiras. Os motivos pareciam sérios mas eram ridículos. Pensavam que ela fosse autora de um livro sem mistério em que a capa guardava um nome tão plural que nem a autor(a) sabia do que se tratava ou por quem ele era escrito.
Tinham que resolver esse mistério.
Mas para chegar em sua casa era necessário se conhecer todas as passagens e senhas do caminho. Diante do bloqueio imposto o motorista afirmava convicto:
"eu vou na casa da Pretinha!"
E a passagem lhe era logo liberada. Ou: "isso aqui é tudo da Pretinha!" - e o resmungo terminava. O mau-humor se revelava se o motorista surtasse ou fosse gay - porque a Pretinha não gostava de gays. Então o policial disfarçava, ligava para alguém e negava a passagem. Resolveram então tentar outros caminhos e táticas, com afirmações do tipo:
"Eu não sou católico, mas eu comunguei!"
"Eu hoje sou fantasma!"
"Estamos indo na reuniao da Interpu do Brasil!"
"Libera aí as correspondências atrasadas da Pretinha!"
"A gente estamos atrasados, a Pretinha vai reclamar!"
Diante da estratégia bem sucedida de retórica, o rosto se azulava, o olhar se arregalava e o jeito era deixar passar. Não poderiam nem imaginar aqueles dentes brancos ronronando para eles. A Pretinha era xumbrega mais mandava bem. Nunca deixava vestígios.
Tanto que a casa visitada nem tinha nenhuma Pretinha:
"Vai ver que ela se encantou..."


Ps: O CD sumiu mas é claro que recuperei a imagem. Aí está a foto da cadela periculosa.
...
 
CHIENNE versus CADELA
 
Ela era uma galinha. Diante do tiro de espingarda se descobriu.
Ela era uma cadela. Diante do furto da máquina se descobriu.
No escuro, se viam as marcas.
Preta, fizera sucesso.
Mas tinha patas.
Fora chamada. Acreditava e subira aos céus por causa de uma premiação.
Ela cantava!
Não...ela não cantava...mas fora indo naquela ilusão e iria faturar!
Era procurada, a Preta.
Desvendado o assunto...
Preta era cadela de quatro patas e resolvera um dia, num filme, ensinar uma antiga canção aos respeitáveis cachorros.
Cantara.
Encantara entre os seus e ao público também.
Depois disso, na volta, ninguém entendeu o motivo do desprezo...Ficara desgastada.
A outra Preta aceitara o papel e fora ouvir aplausos.
Ficou presa e não convenceu.
Duas pernas negras mas não cantava. Afirmou não se lembrar do ocorrido.
Como era encargada como "cadela" fora lá a mando...tinha tudo para agradar...Era Preta Cadela.
Com isso ouvimos que a pessoa era Cadela...
E que a Cadela era pessoa...
Contra usurpação.
...
 
Observações dos cachorros:
-Não se pode nunca roubar a festa dos cachorros!
-O cachorro tem sempre o direito de se expressar, de latir e de ser feliz ao menos com um osso!
-Ele deve estar sempre bonito!
(Eles me pediram)
-O Luno sumiu...era um fabricante que sabia se remexer muito:

 
 
 
 

terça-feira, 11 de agosto de 2009

História da Lady


"Nós gatos já nascemos pobres,
porém, já nascemos livres."
( Enriquez/Bardotti, História de uma gata)

Em 26 de maio de 2008 nasceu LadyLaura. Era uma gata de sorte, reencarnara como gata porque pulava todos os muros em outra vida. Deve ter sido alguma maldição. Mas nunca reclamara de seu destino: tinha tudo que merecia: carinho, amizade, ração especial - sofria cuidados de um componente da família. Tinha até liberdade de ir e vir. Vivia mesmo solta. No entanto, já não saía tanto assim, desde o dia em que sumira por dois dias. Nesses dias, tinha ficado presa em algum cativeiro. Conseguira fugir e nem ouve alarde. Reaparecera sem qualquer arranhão. Como não saía mais achamos estranho seu sumiço.
A hipótese mais provável é a de que tenha sido furtada por motivos de vingança. A gata era formosa, porém não famosa. Era filha de um gato branco, de raça, com uma mestiça.
Dizem que ela foi vista com um sujeito alucinado, ambicioso, branco e alto, bastante conhecido no bairro. Estava dentro de seu super-carro e estavam indo para a Transcoqueiro. O sujeito transtornado gaguejava sem parar: "vooou es-tutttuuuuu-popopo-rararrrr-vuestupuraarrr"...
No posto de gasolina ele finalmente confessara: sua mulher estava encantada na gata. Confidenciara que eles iriam juntos para um lugar que só os dois conheciam. Ele faria tudo de acordo com o que o pajé lhe ensinara e uma linda mulher iria surgir da gata.
(Quem sabe até, aqui tudo é possível...)
Mas não parava de xingar a bichana: "desertora!"
Insistia na história de que a mesma arranhava os clientes que ela costumava pegar do lado do Basa. Dizia que sua conta estava lá e que não poderia mais se fantasiar de mulher para ir falar com o gerente. Era muito escandalosa a tal fêmea e seus encontros eram chocantes. Vista pelas costas então nem se fala. Era conhecida por gritar sem parar dizendo que aquilo era proibido. Diziam também que só usava salto agulha, saias longas e perigosas, não combinava nada com nada porque sua anti-moda era tu-do. Vermelho era a sua cor. Tinha fama de evangélica porque só saía religiosamente. Mas tinha os olhos vazios e as mãos eram sempre trêmulas. Gostava do Bar do Parque, principalmente porque lhe deixavam encher sua garrafinha de água ardente. Fazia parte da lista que o sujeito saía para vacinar de três em três meses.
E se ela não obedecesse, tratava logo de colocar-lhe uma formiga para investigar. Ora, isso era caso de agente secreto e a alta tecnologia - com certeza - iria desvendar esse mistério. Para se desvencilhar desse enredo, a gata fugira para longe, para lugar bem populoso. Assim ela iria se misturar. Mas ele não acreditava que a perderia de vista. Sua saída estratégica era apenas temporária, porque lhe mandara logo seguir: por toda parte tinha olho.
Quando retornara mandara até lhe colocar anel para que ela se recordasse de seus dias felizes.
Depois de tanta insistência, um dia eles se reconciliaram. Finalmente um happy-end!
Mas alegria de gato dura pouco e ninguém esperava que isso fosse acontecer: um dia ela engatinhou sozinha à noite e no outro dia surgiu boiando na Baía do Guajará.
Terça-feira, 11 de agosto de 2009. Minha mãe não se conforma. Tomara que seja outra.

Ps: a foto é da gata que sumiu. E eu tenho mania de registros.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

AXÉ


AXÉ
“Horácio, horácio,
há mais mistérios entre o céu e a terra
do que sonha sua filosofia...”
(Shakespeare)


Chegada ao estado do silêncio dos peixes...de vem em quando um ou outro olho fica mareado...e o corpo só diz água e a respiração se torna pelas brânquias: são os amigos do fundo que vem lhe buscar e ficam ao lado achando que ela ao fundo pertence e ao fundo deve voltar. Em maresia, então chama a Terra – axé – e tudo se transforma: parece que os orixás vêm dançando e modificam a energia intrusa, transpassam-lhe a alma e curam-lhe as feridas mal-cicatrizadas e, ainda, levam embora a substância venenosa recém-introjetada em seu corpo (sem permissão).
Dançando freneticamente e de modo guerreiro entoam o Yorubá e ainda obrigam o visitante inoportuno a ir embora, de volta para o seu lugar. Ela volta a respirar, o coração rebate, e então recupera o sopro vital. Entoa cânticos. E continua em Terra, pois afirma ao elemento da direita que Axé é vida, alegria, amor, luz....direito ao ser grande e inteiro.
Então o encantado pula de volta na água e vai sem Ela.
Mas ele é um curandeiro em sua tribo. Dar-lhe o bálsamo era a sua missão.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

No fundo do mar, um abismo


No fundo do mar, um abismo

"Un coup de des jamais n'abolira le hasard"


(Mallarmé)




O umbigo do mundo batia no fundo do rio. Ele me olhava e me chamava. Mergulhei, encontrei os egípcios, velhos conhecidos. Vislumbrei o caminho, o sol, as placas e só podia ser essa a dor de que me falaram: a dor de uma saudade. Um rosto querido que havia se perdido, ele precisava ser reencontrado. Busquei então em todos os portais de todo o labirinto. Encontrei amigos que se haviam perdido em aventuras na busca pelo Desconhecido. Eles foram reencaminhados aos seus antigos lugares. Mas daquele que eu tinha saudades não vi. Não o reencontrei. Ele não devia estar então no labirinto. Quem estava por lá havia envelhecido pelo menos alguns dez anos, de castigo, por ter invadido território sagrado sem preparação nem autorização. A curiosidade é insana: provoca perda de memória e da noção de nosso tempo existencial. Depois vem um vazio absoluto.


O umbigo batia como um coração e fui lá, atraída, depois pensei, lá no fundo: não sei, não deveria ter voltado para cá. Tubarões sempre me perseguem e quando não; torturam; atacam-me coração, mente, corpo, até o útero querem destruir e roubam-me também o sangue. Um nojo essa gente. Não são pessoas, são impostores de agentes desaparecidos: eles se dizem policiais. Acho mesmo que fugiram da penitenciária e que usam os nomes desses policiais que realizaram a missão, isto é, a tarefa louvável de prendê-los.


Então fiquei lá, meditando em azul. Mas vieram sim os tubarões e eles pareciam de plástico. Um deles, muito feroz, foi me atacar. Fingi que me jogaria na larva daquele vulcão surgido no fundo do mar: vermelho, de chamas incandescentes, ele soltava larvas. Então, numa espécie de ardil, ao invés deste tubarão provocar a minha queda, fora ele que se jogara para lá. Mas não vi o fim da história, não sei se ele fora salvo. Acho que ele fora salvo sim. (Há sempre discípulos predispostos ao sacrifício). Voltei. Os outros perseguidores desapareceram. Eram de plástico e murcharam. Chegaram a urrar quando o líder se jogara. Vários deles, como se uma parte de suas partes escuras lhes fosse arrancada das entranhas. Mas realmente não sei do final da história.


Mas era o próprio umbigo que lá se localizava - o portal ficava numa praia do Salgado - um canto majestoso me atraíra para aquele fosso. Mergulhei, havia o belo, um raio dourado, e o mysterium tremendum do numinoso que me revelaria porque eu havia retornado. Ele fazia parte de mim, e precisei vir buscar Saturno. Porque era essa a missão.


Havia a esperança de felicidade no final do arco-íris e um sol enorme, majestoso. Quente e confortável. Tinha saudades do seu lar. Viera desse sol e do infinito.