terça-feira, 11 de agosto de 2009

História da Lady


"Nós gatos já nascemos pobres,
porém, já nascemos livres."
( Enriquez/Bardotti, História de uma gata)

Em 26 de maio de 2008 nasceu LadyLaura. Era uma gata de sorte, reencarnara como gata porque pulava todos os muros em outra vida. Deve ter sido alguma maldição. Mas nunca reclamara de seu destino: tinha tudo que merecia: carinho, amizade, ração especial - sofria cuidados de um componente da família. Tinha até liberdade de ir e vir. Vivia mesmo solta. No entanto, já não saía tanto assim, desde o dia em que sumira por dois dias. Nesses dias, tinha ficado presa em algum cativeiro. Conseguira fugir e nem ouve alarde. Reaparecera sem qualquer arranhão. Como não saía mais achamos estranho seu sumiço.
A hipótese mais provável é a de que tenha sido furtada por motivos de vingança. A gata era formosa, porém não famosa. Era filha de um gato branco, de raça, com uma mestiça.
Dizem que ela foi vista com um sujeito alucinado, ambicioso, branco e alto, bastante conhecido no bairro. Estava dentro de seu super-carro e estavam indo para a Transcoqueiro. O sujeito transtornado gaguejava sem parar: "vooou es-tutttuuuuu-popopo-rararrrr-vuestupuraarrr"...
No posto de gasolina ele finalmente confessara: sua mulher estava encantada na gata. Confidenciara que eles iriam juntos para um lugar que só os dois conheciam. Ele faria tudo de acordo com o que o pajé lhe ensinara e uma linda mulher iria surgir da gata.
(Quem sabe até, aqui tudo é possível...)
Mas não parava de xingar a bichana: "desertora!"
Insistia na história de que a mesma arranhava os clientes que ela costumava pegar do lado do Basa. Dizia que sua conta estava lá e que não poderia mais se fantasiar de mulher para ir falar com o gerente. Era muito escandalosa a tal fêmea e seus encontros eram chocantes. Vista pelas costas então nem se fala. Era conhecida por gritar sem parar dizendo que aquilo era proibido. Diziam também que só usava salto agulha, saias longas e perigosas, não combinava nada com nada porque sua anti-moda era tu-do. Vermelho era a sua cor. Tinha fama de evangélica porque só saía religiosamente. Mas tinha os olhos vazios e as mãos eram sempre trêmulas. Gostava do Bar do Parque, principalmente porque lhe deixavam encher sua garrafinha de água ardente. Fazia parte da lista que o sujeito saía para vacinar de três em três meses.
E se ela não obedecesse, tratava logo de colocar-lhe uma formiga para investigar. Ora, isso era caso de agente secreto e a alta tecnologia - com certeza - iria desvendar esse mistério. Para se desvencilhar desse enredo, a gata fugira para longe, para lugar bem populoso. Assim ela iria se misturar. Mas ele não acreditava que a perderia de vista. Sua saída estratégica era apenas temporária, porque lhe mandara logo seguir: por toda parte tinha olho.
Quando retornara mandara até lhe colocar anel para que ela se recordasse de seus dias felizes.
Depois de tanta insistência, um dia eles se reconciliaram. Finalmente um happy-end!
Mas alegria de gato dura pouco e ninguém esperava que isso fosse acontecer: um dia ela engatinhou sozinha à noite e no outro dia surgiu boiando na Baía do Guajará.
Terça-feira, 11 de agosto de 2009. Minha mãe não se conforma. Tomara que seja outra.

Ps: a foto é da gata que sumiu. E eu tenho mania de registros.

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