sábado, 26 de janeiro de 2008

"BRAVE HEART"

Foto 8: Patrícia Garcia. Minha mesmo. Altos do Pão de Açúcar.
Plonger au fond du gouffre,
Enfer ou ciel, qu’importe?
Au fond de l’inconnu
pour trouver du nouveau!”
(Baudelaire)
A montanha que vejo bem que deveria ser construída de livros... mas não: são pedras, são símbolos, tem roseiras e têm espinhos. Escada de Jacó...não...esta é bela, a montanha não. Estava na base até outro dia, mas já tomei a decisão de não voltar e comecei a subir, comecei a fazer a escalada apenas com um punhal na mão, sem alardes, sem fazer qualquer barulho, para quando chegar lá, retirar o tesouro dentre as pedras cravadas no topo da montanha, silenciosamente, enquanto todos estiverem dormindo... Depois sim, a caminhada poderá ser narrada e eu terei uma carta de alforria nas mãos, dentre muitas outras benesses... mas este momento talvez esteja ainda um pouco longe. Ou não, tentemos subir mais rápido...quem sabe...Já que Hórus fica me olhando todos os dias...
Subir dói, sou Prometeu e todos os dias os abutres me comem o fígado, mas é melhor ignorar o fato, porque lá é belo. Todos buscam esse tesouro, eu sei, e já houve quem me impedisse de ir buscá-lo, e continuará havendo, e eu continuarei enfrentando-os, altiva como uma Antígona. (É melhor invocar todos os mitos conhecidos, todas as forças – vou precisar delas. E já sei invocar, tenho também meus auxiliares mágicos se preciso).
Em baixo, o terreno ao redor é feio, fétido e cheio de ratos. O vento sopra e é frio, e fere, fere o rosto e as entranhas. É claro que chove. Daquelas chuvas que doem na alma, porque vem junto com o vento desafiador. Mas além, vejamos além. Posso transformá-lo em aliado, iremos a combate e então este vento me respeitará, terá que se curvar a minha passagem. Ele sabe disso. E me espera para o combate. Talvez até já comece a me reconhecer. E subo, e também paro para refletir. E cá estou, concentrando-me.
Estou cada vez mais só – e mais forte. A solidão é a fonte da força e quem disse que não é boa? É muito bom este estado. Estou quase atingindo o centro negro. Quase. Só mais um pouco e conseguirei. Isso é divino, é Deus. Ele não tem definição, simplesmente é. Yod. Um triângulo negro. Yod no meio. Olhando todos os dias para ele descobri que ele era Deus. E ele já é meu sócio. Deve ser por isso que estou tão tranqüila, mesmo que tudo ao meu redor desabe, mas não vai desabar... Embora haja acontecimentos que já foram anunciados nas colunas... mas já tentei amenizá-los, pela paz e pelo amor profundo. E continuarei emanando assim, para que as quedas não sejam tão duras para os seus atores...
Mas na montanha vejo que volto a dominar os meus passos e isso é muito bom. Recuperei o anel do poder, ou ao menos ele me foi concedido, mas agora a responsabilidade é bem maior, o contrato foi anunciado também entre as colunas de Jaquin e Boaz. E no Templo de Salomão tudo reverbera para o infinito. E deve ser olhado com muita seriedade. Continuo viva e em troca tenho que fazer o que me foi ordenado. Então continuo, o céu se modifica e consegui alcançar o segundo céu. Tudo é silêncio. Então é permitido que eu me alimente agora. Façamos o combinado, então. E quanto aos que se encanecem de mim, estes terão o que é deles merecido, como todos sempre têm, já que assim é a Lei. Eu tenho, eles têm. Então me sento na montanha, na minha montanha, e páro para a alimentação do corpo e do espírito. Assim seja.
 23/5/2004 15:53:46







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