Foto 15: "Perto do Jardim Botânico". P.I.G.S. Rio de Janeiro, 2008. |
“Eu vi a luz em um país perdido
A minha alma é lânguida e inerme
Oh! Quem pudesse deslizar sem ruído!
No chão sumir-se, como faz um verme...”
(Camilo Pessanha)
A minha alma é lânguida e inerme
Oh! Quem pudesse deslizar sem ruído!
No chão sumir-se, como faz um verme...”
(Camilo Pessanha)
Passeava nu entre telhados sujos. Sabia que somente a rua era seu país. Não tinha dono e a liberdade era seu maior trunfo. Talvez fosse ele o destino, inexorável e incerto, apontando para becos imundos nas incertezas de suas sete vidas.
Pulou no escuro e no asfalto quente, e não sabia ao certo que ponto atingiria em seu salto mudo. A imensidão era obscura e a caça, inviável. Mas, apesar de tudo, ao menos o tempo parecia conspirar a seu favor, levando as folhas, trazendo o vento. E todo olhar cruel havia sido cremado pela chuva, em ópera incógnita, transparente, juntamente com o sol.
Por isso sorria.
A estrada estava banhada pelos raios avermelhados da tarde outonal e pareciam abençoar o seu nome, coroá-lo depois de tantas idas e vindas. Foi depois de ter tocado o sinal verde: era certo que agora seria mais livre do que nunca e, sobretudo, mais feliz. Raios, tempestades, chuvas e uma lua que se insinuava falavam em uma linguagem secreta e estranha que somente aos felinos era permitida a entrada.
Estremeceu. E de súbito compreendera. Decifrava os signos. Deslizava incólume. Deslembrava... Então deixou que as águas escorressem, que a presa se fosse, que chovesse, que os pássaros alçassem vôo, que as borboletas fossem belas. E todo esplendor à beira do rio se erguera em comunhão.
Ao acordar, havia apenas o rugir do meio-dia.
Um comentário:
Patrícia, li o Gato Preto e senti uma liberdade felina, dessas que só os animais podem ter, mas que nós, humanos, sentimos e experimentamos na leitura de textos como o teu.
Bises,
Lilia
(voltarei para visitar o blog inteiro)
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