sábado, 26 de janeiro de 2008

A Caminho

Foto 5: P.I.G.S. "Ar Fresco". Rio de Janeiro, 2008.
« Et je sentais des gouttes de rosée dans mon front
comme un vin de vigueur... »
(Arthur Rimbaud)


A manhã revelou-se então como um mistério. Tinha outro perfume e seu bálsamo consolava. Parecia falar com ela e lhe mostrar um rosto completamente novo e puro de desejos, sonhos, quimeras. As partidas e renascimentos eram freqüentes e a cada pisada desfolhava quimeras. Lembranças...O milho do cuscuz, o café fresquinho de sua mãe, as hortaliças recém-chegadas da horta... tudo isso lhe soava aos ouvidos como uma voz longínqua, mas ali mesmo, em presença viva.
Nitidamente havia a certeza de uma epifania. Talvez porque presenciasse a transformação se realizando e a mudança de aromas e de vôos e de cantos outrora adormecidos. O ar da relva, o cheiro do cavalo, a estrada repleta de outono e de verde, tudo isso retornava a ela feito uma benção, um beijo carinhoso nas faces, um raio rosado.
E tinha de chegar. Isso era tudo. Mas desfazia o nó. A visão era bela e encantava. Fazia perder o senso de realidade. (Mas que real?) Talvez na verdade penetrasse àquela hora o verdadeiro real. Esse, livre da corrupção mundana e sem grades. Mas as horas pesavam e precisava partir. O cavaleiro interpelou-a e ele mesmo parecia uma ilusão, uma esfinge, perguntando-lhe de onde ela era. De onde?
Escorregou para o seu mundo aguardando o próximo ato.
E ele veio, sem trégua.


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