
"Choramos ao nascer
porque chegamos a este imenso
cenário de dementes." (Shakespeare)
Era noite de calor. Ou seja, da janela poderia ventar boas vibrações. Maresia. Poderia até sonhar com galanteios, flores e bombons. Contudo, ocorreu-lhe algo inesperado: seu chapéu preferido fora roubado. Teria sido provocação? Ou o gatuno inoportuno seria tão pobre que estaria extremamente necessitado de um modelito daquele? Achou até que era um homem alto e negro, não sabia ao certo. Lá pelas quatro da manhã, talvez. Sempre ficava dormindo pesado. É claro que estava revoltada. Um pequeno ato desses revela muitas coisas. Porque teria o invasor feito isso? Vamos levantar as seguintes hipóteses mais básicas:
a) Ele não tinha chapéu de feltro daquela cor, era um colecionador de raridades;
b) Aquele moço desconhecido e de uns dois metros de altura devia estar com inveja daquela cabeça inventiva;
c) Não gostava muito de seus escritos provocativos;
d) A confundira com uma evangélica, que estava sendo procurada por vários crimes;
e) Quisera dar algum aviso;
f) Ela não desistiria jamais de ceder seu curriculum, conforme já revelara anteriormente, por isso ele quis mostrar que foi lá: aplicou-lhe até creme de menta insuspeitável em região que não me convém revelar;
g) Só queria perturbar e provocar um ímpeto criativo na vítima;
h) Mandaram-lhe em outra casa aplicar o teste; ele invadiu a casa errada;
i) Trata-se de um golpe que ainda não chegou ao fim, o sumiço do chapéu é apenas um signo de algo muito pior;
j) Existe algo de inominado, de vazio nisso tudo: o chapéu lhe traria um sentido para sua existência materialista: era para contemplação;
k) Ele não conseguia escrever nem criar nada, colocou-se o chapéu para ver se uma luz se acendia em sua alma: porque aquele modelo parecia o do prof. Pardal;
l) O chapéu brilhava no escuro: não resistiu, era um cleptomaníaco;
m) Achou que o chapéu ficaria bem na cabeça loura da sua namorada baixinha: eles iam para a praia naquele dia;
No fim não se sabe, são apenas hipóteses que têm a função de apaziguar sua alma revoltada e desejosa de justiça. Aguarda a devolução do mesmo. Está indignada. E também precisa que lhe retirem o malefício que lhe fora colocado. A dor apenas lhe aumenta a sede de justiça. Ontem mesmo. Pela justiça ela lutará sempre: seu caminho de vida é seu porque foi ela que o construiu como um muro de tijolos.
A estrada do conhecimento nunca tem fim e seu fim é sempre o infinito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário