
"I sacrifice my cock on the altar of silence"
(Jim Morrison)
"Se eu cozinho é meu?"
(Anônimo)
"Se eu cozinho é meu?"
(Anônimo)
Cozinha e filosofia sempre caminharam juntas. Cortava-se um tomate: uma barreira. Cortava-se outro tomate: outra barreira. Durante a cebola chorava muito porque todos choram nessas horas. Punha-se sal mas começava a duvidar também do elemento. Além disso, temia a pimenta, mas sem ela nada de movimento. Eram muitos detalhes nessa arte e nada disso bastava. Tinha-se que se pensar nos convidados. A carne estava sendo escolhida. As batatas eram sem vício e se deliciava, mas se estranhamente ardessem na garganta parava para analisar.
Morreria pela boca?
Para um cozinheiro talvez o mais importante seja o processo de preparação e não o prato final, ou seja, a própria viagem. O cru e o cozido. A cara e a coroa. Dizem que apressado come cru, mas nunca se sabe... não seria melhor mesmo comer cru, porque os ditos primitivos sabiam das coisas? Então somos civilizados e esperamos o cozimento, mas não se sabe a hora em que tudo chegará ao ponto...mas e se a comida perder o sentido?
Vieram os convidados. Eles materializaram-se. Mas para eles muitas vezes a comida não era conhecida e nem sempre sabiam dos protocolos. Apenas a ordem era dada e sem explicação. Daí que a comida talvez não ficasse palatável ao final, porque era pura castração exterminar aquele momento de criação. Talvez terminasse sem sabor, sem gosto, sem alegria.
(Sua mãe, por exemplo, detestava o azedo; ela, por sua vez, amava o doce.)
De qualquer modo, encarava qualquer prato: coisas de antropóloga. Mas nem sempre conseguia fácil digestão.
Uma vez, por uma fome de banana, ficara três horas sem respirar. O efeito se repetira com um suco comprado na rua, e também com uma água de côco.
Era impressão dos sentidos, "coisas de sua cabeça" - diziam-lhe. Porém garantia que era verdade. Ficava sem ar. Sufocava.
Eram presentes (e ela adorava presentes).
Mas precisava ser assim? Assim é que se contratavam atualmente? Testes...testes...testes... a que hora pedira tais testes?
A galinha realmente se tornara picante a ponto de causar um ressecamento total, quase sem solução. Seria a pimenta? Aonde teria sido comprada? Outra vez seu prato preferido causara-lhe estranha convulsão. Ouvira dizer que alguns ingredientes já eram vendidos envenenados. Sendo assim, estressados aposentados, ingênuas donas-de-casa, desempregados, viúvas, órfãos, aflitos - todos se tornavam alvo.
E tais convidados gostavam apenas de morar na filosofia. Isso não era muito - acreditava. Quem sabe encontrassem um lugar aprazível...
Mas o cozimento era destinado ao silêncio.
Morreria pela boca?
Para um cozinheiro talvez o mais importante seja o processo de preparação e não o prato final, ou seja, a própria viagem. O cru e o cozido. A cara e a coroa. Dizem que apressado come cru, mas nunca se sabe... não seria melhor mesmo comer cru, porque os ditos primitivos sabiam das coisas? Então somos civilizados e esperamos o cozimento, mas não se sabe a hora em que tudo chegará ao ponto...mas e se a comida perder o sentido?
Vieram os convidados. Eles materializaram-se. Mas para eles muitas vezes a comida não era conhecida e nem sempre sabiam dos protocolos. Apenas a ordem era dada e sem explicação. Daí que a comida talvez não ficasse palatável ao final, porque era pura castração exterminar aquele momento de criação. Talvez terminasse sem sabor, sem gosto, sem alegria.
(Sua mãe, por exemplo, detestava o azedo; ela, por sua vez, amava o doce.)
De qualquer modo, encarava qualquer prato: coisas de antropóloga. Mas nem sempre conseguia fácil digestão.
Uma vez, por uma fome de banana, ficara três horas sem respirar. O efeito se repetira com um suco comprado na rua, e também com uma água de côco.
Era impressão dos sentidos, "coisas de sua cabeça" - diziam-lhe. Porém garantia que era verdade. Ficava sem ar. Sufocava.
Eram presentes (e ela adorava presentes).
Mas precisava ser assim? Assim é que se contratavam atualmente? Testes...testes...testes... a que hora pedira tais testes?
A galinha realmente se tornara picante a ponto de causar um ressecamento total, quase sem solução. Seria a pimenta? Aonde teria sido comprada? Outra vez seu prato preferido causara-lhe estranha convulsão. Ouvira dizer que alguns ingredientes já eram vendidos envenenados. Sendo assim, estressados aposentados, ingênuas donas-de-casa, desempregados, viúvas, órfãos, aflitos - todos se tornavam alvo.
E tais convidados gostavam apenas de morar na filosofia. Isso não era muito - acreditava. Quem sabe encontrassem um lugar aprazível...
Mas o cozimento era destinado ao silêncio.
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