
"O sorriso mais sincero é o sorriso desdentado"
(Mário Quintana)
(Mário Quintana)
Não tinha novidades para contar. A sensação era de carta roubada. Um correio lacrado talvez imaginado. Não entregado, porque nunca encontrado já que o lugar estava "encantado" - era isso que lhe diziam. Não tinha nada lá, teria imaginado? Viam somente ondas que se agigantavam... Quem sabe um contrato de trabalho ao menos... para lhe dar guarida e confirmar sua existência. O estado de fantasma se confirmava? Algumas vezes vultos pisavam-lhe o quarto. Pisadas. Pisadas. Armadilhas se pronunciavam. Ou não...
(Iria conferir no dia seguinte o que estava bebendo).
Esse efeito deveria estar em sua bebida, mas jurava que existia: sentia-se, suava, era constituída de uma carne que não largava os ossos.
Não conseguia sequer inscrever-se em concurso público. Teriam orientalizado o link?
A pista estava perdida. O resgate não acontecia. Sobrevoavam. Ela (a pista) era olhada de cima e só se viam as águas. Mas era alucinação. Jurava que seu juízo estava inteiro e tinha certeza de que ao menos um contrato existiria. E não era um espírito vagante inconformado por ter sido enterrado lentamente na tumba. Não, era sujeito existente. Mas nada do mensageiro. Nada de novidades mesmo. Na segunda-feira tudo se reiniciava e continuava: digo, a esperança de que lhe trariam notícias consistentes.
Não, o terapeuta não resolveria, (como lhe haviam sugerido) preferiria um empregador mesmo, desses de recursos humanos, e nada de lhe chamarem para uma vaga de telemarketing, é certo que uma vez passara por essa estação mas fora algo provisório, ficaria enervada se tal acontecesse e sorriria entredentes, mas disfarçaria sua desfaçatez com um sorriso cúmplice, não seria bom deixar uma má impressão...
Porque somente pretendia (ora!) trabalhar utilizando seu curriculum, colhendo o que plantara, não seria essa a lógica? Mas existiam respostas que ainda não havia compreendido nem recolhido em sua modesta investigação. Travara. Parada obrigatória para o pensamento crítico.
Sobre o lance dos chips, parece que (Dieu merci!) já tinham lhe desprezado, havia sido honrosamente excluída dessa fabulosa pesquisa. Inclusiva comentara que nem tinha autorizado pesquisa nenhuma com seu corpo. Quem sabe aquele empregador mudo agora lhe chamasse. Respondeu que "não, não fazia parte disso". E tinha que olhar nos olhos porque assim que lhe ensinaram uma vez, numa dinâmica. Nada de improvisar respostas. Estudaria as corretas. Lembraria de todos os gestos e atitudes. Faria tudo conforme. Tinha ouvido falar que a dita pesquisa era para produzir um tal de remédio para ressecamento vaginal, mas também lhe disseram em surdina que a última versão desse medicamento apenas provocara enjôo e vômito nos casais: porque nao fazia sentido juntar o cheiro de uma com o cheiro de outra.
(Que calafrio, não gosta nem de pensar nesse efeito enjoativo!).
Era membro da ABA: pesquisa com seres humanos deve ser autorizada. Mas cometeu um deslize: acabou comentando tudo com o entrevistador. Este continuara com um olhar impassível e não sabia nem se havia entrado no lugar errado e talvez aquela fosse a porta do psiquiatra, porque são sempre eles que nunca falam nada, parece que tudo ouvem e compreendem e então - concluiu - não sabia muito sobre esses novos recrutadores de recursos humanos. Daí que finalmente ele lhe perguntou se ela possuía ainda algo a acrescentar. Ela respondera-lhe que só queria saber quando começaria na vaga.
(Aprendera essa dica com um amigo).
Seu estado de irônica mudez talvez tenha sido a resposta.
Já em sua casa, na frente, parara um caminhão: mas ele não tinha nada a ver com isso.
(Iria conferir no dia seguinte o que estava bebendo).
Esse efeito deveria estar em sua bebida, mas jurava que existia: sentia-se, suava, era constituída de uma carne que não largava os ossos.
Não conseguia sequer inscrever-se em concurso público. Teriam orientalizado o link?
A pista estava perdida. O resgate não acontecia. Sobrevoavam. Ela (a pista) era olhada de cima e só se viam as águas. Mas era alucinação. Jurava que seu juízo estava inteiro e tinha certeza de que ao menos um contrato existiria. E não era um espírito vagante inconformado por ter sido enterrado lentamente na tumba. Não, era sujeito existente. Mas nada do mensageiro. Nada de novidades mesmo. Na segunda-feira tudo se reiniciava e continuava: digo, a esperança de que lhe trariam notícias consistentes.
Não, o terapeuta não resolveria, (como lhe haviam sugerido) preferiria um empregador mesmo, desses de recursos humanos, e nada de lhe chamarem para uma vaga de telemarketing, é certo que uma vez passara por essa estação mas fora algo provisório, ficaria enervada se tal acontecesse e sorriria entredentes, mas disfarçaria sua desfaçatez com um sorriso cúmplice, não seria bom deixar uma má impressão...
Porque somente pretendia (ora!) trabalhar utilizando seu curriculum, colhendo o que plantara, não seria essa a lógica? Mas existiam respostas que ainda não havia compreendido nem recolhido em sua modesta investigação. Travara. Parada obrigatória para o pensamento crítico.
Sobre o lance dos chips, parece que (Dieu merci!) já tinham lhe desprezado, havia sido honrosamente excluída dessa fabulosa pesquisa. Inclusiva comentara que nem tinha autorizado pesquisa nenhuma com seu corpo. Quem sabe aquele empregador mudo agora lhe chamasse. Respondeu que "não, não fazia parte disso". E tinha que olhar nos olhos porque assim que lhe ensinaram uma vez, numa dinâmica. Nada de improvisar respostas. Estudaria as corretas. Lembraria de todos os gestos e atitudes. Faria tudo conforme. Tinha ouvido falar que a dita pesquisa era para produzir um tal de remédio para ressecamento vaginal, mas também lhe disseram em surdina que a última versão desse medicamento apenas provocara enjôo e vômito nos casais: porque nao fazia sentido juntar o cheiro de uma com o cheiro de outra.
(Que calafrio, não gosta nem de pensar nesse efeito enjoativo!).
Era membro da ABA: pesquisa com seres humanos deve ser autorizada. Mas cometeu um deslize: acabou comentando tudo com o entrevistador. Este continuara com um olhar impassível e não sabia nem se havia entrado no lugar errado e talvez aquela fosse a porta do psiquiatra, porque são sempre eles que nunca falam nada, parece que tudo ouvem e compreendem e então - concluiu - não sabia muito sobre esses novos recrutadores de recursos humanos. Daí que finalmente ele lhe perguntou se ela possuía ainda algo a acrescentar. Ela respondera-lhe que só queria saber quando começaria na vaga.
(Aprendera essa dica com um amigo).
Seu estado de irônica mudez talvez tenha sido a resposta.
Já em sua casa, na frente, parara um caminhão: mas ele não tinha nada a ver com isso.
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