"Ser livre não é ter o poder de fazer não importa o quê, é poder ultrapassar o dado para um futuro aberto" (Simone de Beauvoir)
Chegaram em um carro do Governo. Fui chamada para “conversar”. Não entendi nada. A senhora conversou com eles primeiro depois seria minha vez.
Chegaram em um carro do Governo. Fui chamada para “conversar”. Não entendi nada. A senhora conversou com eles primeiro depois seria minha vez.
Seria o Censo? Não sabia...O que seria? Pesquisa? Não sabia...
Sentou-se à contragosto. A pessoa (mulher branca, gorda, por volta de seus quarenta anos) não se apresentou como convinha e continuei sem entender do que se tratava, só vi o carro lá fora...
Mas pareceu que ela quisesse saber sobre a minha vida...disse algo do gênero...portei-me como uma candidata à emprego e disse que eu possuía informações na internet, era fácil me encontrar, coisas desse tipo...Parecia que ela nunca estava satisfeita...por que não iria embora? Mas depois afirmou que nós poderíamos fazer amizade e que eu poderia andar com ela...quem sabe...depois encontraria uma colocação...
Desculpei-me mas afirmei que não tinha interesse em andar com ela...era uma pessoa reservada...
Mas se ela possuísse alguma proposta mais concreta de emprego eu poderia me interessar pela vaga...
Senti-me ameaçada; pressionada; não sei porque suava, nervosa...
“Minha amiga” foi embora.
A chinesa, fantasiada como minha mãe, exigia e eu obrigada a travar contato com a desconhecida.
Da outra vez, o diálogo foi mais ou menos assim:
-Eu sou doutora.
- Eu também...(a Mulher)
-Eu tenho graduação, mestrado e doutorado.
-Eu também...(a Mulher)
-Como?! Como é seu nome?
-Meu nome é Patrícia... (a Mulher)
-Eu também...
-Que coincidência!(a Mulher)
Fui encurralada. Tinha me negado a atender a visita. Gritei:
-Não vou!!!!
Tinha voltado a Sulamit*, portava um crachá e uma prancheta. Mas foi fisicamente me encurralando em um setor da casa...reclamei pelos meus direitos...disse que iria processar...não era obrigada a “conversar”...não adiantou.
Apagou-se tudo.
Fui levada.
(Conta-se)
...
Voltou outras vezes, o carro. Dessa vez eram duas! Faziam ares de seriedade, mas não se apresentavam como convinha. Uma, magra, loira; era mais mal-educada; outra, era uma jovem de cabelos pretos, lisos, nada falava.
Foi igual. Os vácuos aconteciam bastante. Não tinha nada a declarar. Simplesmente não havia entendido o que queriam as tais “agentes do Governo”.
...
O cargo “agentes de saúde” seria descrito como a atuação de seres (mal-educados) que davam a entender que cuidavam da saúde do cidadão...nas casas? Não sei por qual cargo exatamente éramos vitimizados.
O cargo somente de “agente” estaria aonde?
O cargo “agente do Governo”... nunca ouvi falar...
Que cargo seria esse que autorizava um desconhecido, que se identificava pela posse de um carro do Governo, a invadir a casa de um cidadão, para obrigá-lo a conversar? Travar contato? O cidadão não é obrigado a aceitar essa intromissão na sua vida particular, ao modo da ditadura...
...
Recebíamos com freqüência a visita de pessoas que portavam todo aquele aparato para tirar a pressão de uma pessoa...uma liga...para amarrar-lhe o braço:
-Um, dois, um, dois, três...um, dois, um dois três...(e o líquido amarelo ia sendo introduzido...a pessoa, paralisada...)
Nessa invasão...nesse “socorro”...o tal de medicamento era mesmo o veneno.
Quem seriam?
Se chegássemos aos OPA’S (postos de saúde) envenenados...contando tudo...éramos tratados com irritação...recebíamos o papel “encaminhamento psicológico”, por uma pretensa médica, muitas vezes surda, robotizada, sei...os robôs nem nos olhavam...depois me contavam (por outros meios) que tinha acontecido um “socorro”...mas não iríamos nos lembrar...
O papel nos encaminhava para o nada. Aonde faríamos exames?
-É que tem que pagar!
-Não atendemos isso aqui (dentista).
-Então não é serviço público...
E picadas rolavam...picadas rolavam...o envenenamento era constante...
As ordens de sermos ignorados também.
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